segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A primeira delas a sair....

E de repente se fez o silêncio.  Mas este apenas surgia no mundo exterior, por que aqui dentro, onde ninguém mais tem acesso há um grande turbilhão. Um turbilhão de idéias, de sensações, de querer.
Fico pensando em qual foi o momento em que comecei a me afastar, afastar de mim mesma, afastar daquilo que conhecemos como Deus. Dessa força superior que deveria nos guiar e proteger. Onde meu contato se perdeu?
Neste ano passei por experiências pelas quais eu jamais imaginei que passaria, coloquei-me em frente  a novas situações, tudo nessa busca por essa força superior que dizem estar por ai olhando por nós.
Ao mesmo tempo tanto tenho lido, mensagens que me dizem que o caminho para essa força superior está mais próximo do que imagino, as leituras me mandam olhar para dentro, que este Deus pelo qual procuro está em mim. Que eu e Deus somos um. Tão diferente do que cresci acreditando e da idéia que me afastei anos atrás.
A idéia de que Deus seria um grande senhor, de longas barbas brancas, sentado em seu grande trono. Idéia que com os anos se perdendo foi. Uma revelação dolorosa, acordar um dia e ver que esta idéia do grande senhor protetor se foi. Ao mesmo tempo, sem manual de instruções uma nova força superior passou a se mostrar em tantos outros pequenos detalhes. Um Deus que se faz presente a cada onda do mar que sinto tomar meu corpo, no calor do céu que toma a pele, nas lindas paisagens, no sorriso mais singelo, na gargalhada que me aquece, no abraço e na forte troca de energia entre duas pessoas.

É engraçado como a mente o tempo todo tenta nos desviar, afastar.

Fico pensando nos momentos em que mais perto me senti de Deus e hoje a única resposta que me vem a cabeça e: enquanto dançava! Momentos em que nada mais existia, apenas o movimento. A perfeita união entre corpo e mente, por mais que não estivesse dentro dos padrões exigidos pelo mercado de trabalho. Aquele era o meu momento, era minha prece, meu encontro com uma esfera superior.  E de alguma maneira esse elo também se quebrou.  A dança se distanciou de meu corpo, e o pior é que me acostumei com isso.

Será algum grave engano dizer que a dança era minha prece? Será algum pecado dizer que meu encontro com Deus se dava através de meu corpo? Mas aquele era de fato meu momento de comunhão.

E agora de modo inesperado, ou nem tão inesperado assim, me rendi as pressões externas e permiti que a dança se fosse. Não me sinto frustrada ou decepcionada com as decisões profissionais que tomei, mas o fato é que nunca encontrei um momento de comunhão tão verdadeiro quanto aquele em que todo meu corpo estava em movimento. A comunhão que acontecia não enquanto as luzes estavam acessas e o os olhares atentos, mas naquele momento em que era apenas eu e o movimento, sem pressões, sem outras intenções que não fosse simplesmente sentir, simplesmente mover.

Dessa energia sim, sinto falta.

Onde de novo encontrar esse perfeita união entre corpo e alma? Seria a dança o meu verdadeiro encontro com o meu Deus, mas o Deus dessa versão moderna, que reside simplesmente em mim, aqui dentro?
Mas e quando não consigo mais me encontrar na dança, onde encontrar o meu Deus? O que fazer quando mais esse elo se quebrou?

Há um bom tempo não me sinto inteira.

Difícil me afastar do julgamento e controlar a vontade de deletar tudo isso. Para que escrever? Ao mesmo tempo, sinto um certo alivio a cada palavra que sai de meus dedos. É como se alguém pudesse me dizer que tudo vai ficar bem, que está aqui por mim, para me ouvir e zelar. Que não estou sozinha nesta luta.

O que mais dói nesse momento é o fato de não saber mais rezar! Onde está essa capacidade de simplesmente fazer uma prece? Por que não sou mais capaz de conversar com meu Deus?





Um comentário:

  1. Bailarina errante, da mesma forma que a dança,o silêncio é também uma forma de dialogar com "Deus".
    É muito bom vê-la compartilhar esse silêncio.
    Esse pode ser um sinal de que tá tudo certo.

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